quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O cinema que transforma


Ele é da Baixada Fluminense, porém diz que seu território é o mundo. Com seus amigos fundou a 4U Films, que tem produzido clipes, curtas e um longa, tudo para o engrandecimento do audiovisual cristão. Destas obras algumas atravessaram as fronteiras do Brasil, que são os filmes Não me deixe te deixar e Dom gratuito. Batemos um papo com o diretor Miguel Nagle, e pudemos constatar o que passa por sua cabeça pensante.  




Alessandro Swinerd: Miguel, quais são suas influências cinematográficas?
Miguel Nagle: Minha maior influencia é *C.S. Lewis, um excepcional contador de histórias. Diretores que tive contato que me influenciam bastante é o *Fernando Meirelles, *Laís Bodanzky e *Philippe Barcinski. Gosto bastante também de *Tarantino.

AS: Quando surgiu a idéia de fundar uma produtora de filmes evangélicos na Baixada Fluminense?
MN: Em 2009, eu, Luan e Douglas fundamos a 4U Films. Somos da mesma igreja e já estudávamos cinema. Deus colocou no nosso coração o desejo de usar nosso dom com a sétima arte para transformar vidas e fazer filmes com excelência. Mas nosso objetivo nunca foi fazer uma produtora clássica e sim um ministério de cinema, que vivesse isso além da arte, mas com um propósito. Hoje não considero a 4U Films uma produtora da baixada fluminense, me orgulho muito de ser daqui, mas ela não foi criada pra ser algo local e sim para o mundo, hoje temos profissionais trabalhando conosco da capital do Rio, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Natal, Vitória e outros lugares, nossos filmes também são legendados em português para possibilitar deficientes auditivos assistir; legendamos em inglês e espanhol também. Então a 4U é um ministério que nasceu no coração de Deus, com base em Nova Iguaçu, mas para o mundo.

AS: As produções da 4U Films vem recebendo elogios da crítica especializada. Qual a fórmula para reunir profissionais de alta qualidade técnica num espaço tão curto de tempo?
MN: Não tem uma fórmula, muitos não sabem, mas a qualidade técnica não é prioridade para fazer parte do grupo e sim o direcionamento de Deus. A maioria não era profissional antes de entrar na 4U Films e sim estudantes de Cinema, Audiovisual e RTV. Muito importante também são os sonhos, comunhão com Deus e o perfil desse profissional em relação ao ministério. O bacana da 4U Films que somos uma família, onde crescemos e aprendemos juntos. E eu como líder apoio muito pra todos correrem atrás do conhecimento tanto espiritual e no profissional, acho que o resultado disso tudo tem refletido nas telas e agradado também a crítica especializada "secular".

AS: Tudo começou com o curta-metragem “Não me deixe te deixar”, depois dele a produtora teve uma ascensão meteórica. Isto é fruto da transpiração do grupo? Ou pode dizer que existe um toque divino nesta história?
MN: Sem querer usar um clichê gospel, mas o que nos motiva é Deus. Todos têm um chamado bem especifico na área de cinema, então a dedicação e a busca pela qualidade nos influenciam bastante. 

AS: A 4U Films realiza cursos, palestras e seus filmes são selecionados em vários festivais. Que ações mais devem ser feitas para que o Cinema Cristão ganhe força no mercado audiovisual brasileiro?
MN: Acho que falta a liderança (pastores) precisa olhar mais para arte cinematográfica, acredito que o dinheiro não seja o problema, pois a música está muito bem estabelecida no mercado, mas o cinema ainda está engatinhando. Com a liderança apoiando, vão crescer o número de profissionais e projetos, ajudando a fomentar o cinema cristão no Brasil.

AS: De que forma aconteceu esta parceria entre vocês e a Cia de Artes Nissi para a produção do longa-metragem “Metanóia”?
MN: Eu conheço o Caique, líder da Cia Nissi, desde 2007 quando foram ministrar uma peça na minha igreja. Mantemos contato e sempre conversamos sobre alguns sonhos e projetos. O Caique tinha um argumento pra um filme e momento certo Deus uniu os dois ministérios pra escrever e realizar esse filme juntos.

AS: Quais os pontos positivos e negativos de fazer este filme, em São Paulo, sem recursos provindos das Leis de Incentivo a Cultura?
MN: Fazer cinema no Brasil sem uma grande estrutura financeira é bem complicado, acho que a maior dificuldade foi à verba, ainda mais quando se trata de um longa-metragem com mais de 50 diárias de filmagem. Mas graças a Deus conseguimos multiplicar a verba e conseguimos bastantes parceiros.

AS: Na obra houve participação de artistas consagrados: Caio Blat, Silvio Guindane, Solange Couto e Thogun. Como eles encararam atuar num filme que a mensagem central é a transformação de vidas através da Palavra de Deus?
MN: Foi bem natural trabalhar com eles, todos se apaixonaram pela história do roteiro e estavam muito motivados para participar do filme. O Metanóia nada mais é do que um filme sobre um personagem que passou pelo submundo do crack e conseguiu vencer através da fé! Acho que a arte transcende um pouco alguns preconceitos ou rótulos, então foi bem tranqüilo trabalhar com esses atores.
 
AS: Quando será o lançamento do longa “Metanóia”?
MN: A previsão é que seja no meio do ano que vem.

AS: A 4U Films já tem novas produções em andamento?
MN: A 4U Films não para, estamos finalizando três curtas e dois documentários. Temos diversos roteiros em andamento de curtas e longas. Em breve teremos muitas novidades!



Notas
*C.S. Lewis: teólogo e escritor britânico, autor da clássica trilogia As crônicas de Nárnia;
*Fernando Meireles: cineasta, roteirista e produtor brasileiro, que foi diretor do aclamado longa Cidade de Deus entre outras obras;
*Laís Bodanzky: cineasta e roteirista brasileira, que dirigiu o premiado filme Bicho de sete cabeças;
*Philippe Barcinski: cineasta, roteirista e produtor brasileiro, que dirigiu o filme Não por acaso;  
*Quentin Tarantino: roteirista e produtor norte-americano, que causou alvoroço no cinema com a obra Pulp fiction. Também tem no currículo Kill Bill vol. 1 e 2, e outros sucessos.
  

Acesse:


*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Guerreiros que estão muito além dos credos


Ela mora em Niterói, terra de Araribóia, e exerce várias funções - missionária, educadora, escritora, grafiteira e ilustradora são algumas delas. Estamos falando de uma mente prodigiosa, chamada Lya Alves, que com a colaboração do roteirista André Alves (também seu marido) criaram a história em quadrinhos Guerreiros de Deus. Onde jovens brasileiros agraciados por super-poderes são recrutados pela AIS - Agência de Investigação Sobrenatural, tendo como missão combater seres infernais que estão invadindo o mundo para implantar o Apocalipse Zumbi.
As revistas publicadas de forma independente - Estrela Cadente, Destino/Operação Resgate e Conspiração (edições n. 1, 2 e 3), vêm conquistando centenas de fãs através de seu conteúdo fantástico impresso pelo traço magistral da autora. Tivemos o prazer de entrevistá-la, e trazer aos nossos leitores uma centelha deste universo tão intrigante.




Alessandro Swinerd: O que te inspirou em criar os super-heróis Guerreiros de Deus? E quanto tempo leva para a produção da história em quadrinhos?
Lya Alves: A Guerreiros de Deus começou com brincadeiras entre eu e André. A gente sempre brinca com jogos de desenhos. O André também desenha, o traço dele é mais cartoon, e a gente sempre ficava brincando de criar personagens para zoar amigos. Assim nasceu o primeiro personagem, reverendo Nelson, rsrsr. Depois veio a Jezabel, e daqui a pouco a gente tinha um grupo de Guerreiros pronto. Como eram inspirados em personagens da vida real, os personagens tinham um perfil psicológico forte, não era só o cara fortão que é herói porque sofreu uma tragédia, ou o vilão não é vilão só porque é louco. 
Com relação ao tempo de produção, agora o André está sem tempo de escrever os roteiros porque está no processo de gravação do segundo CD. Mas eu levo 1 dia pra desenhar e arte finalizar uma página. Por isso a partir da edição n. 3, diminuímos a quantidade de páginas. Mas não é só isso. Tem o tempo de criação do roteiro, tem depois o tempo de preparo de material de divulgação, depois o tempo de divulgação na internet e nas redes sociais, a distribuição das revistas, e não temos uma equipe ainda, nem dinheiro para investir em publicidade, que é fundamental.

AS: Por que estes personagens de temática cristã fogem ao comportamento convencional?
LA: A Guerreiros de Deus nasceu assim, e tivemos cuidado de manter essa característica, adotando esse pé na realidade como estratégia na criação de personagens. Por isso os personagens têm uma carga de relatividade, o malvado pode não ser tão malvado, e os heróis têm imperfeições às vezes bem acentuadas. E com relação à temática cristã, na verdade, a imperfeição é o padrão do homem na Bíblia. O homem nasce pecador, não é uma opção, é uma herança que vem do Éden. Assim temos um Abrão mentindo pra Faraó, um Jacó mentiroso e usurpador, sem contar em Davi, o homem segundo o coração de Deus, que comete um crime premeditado seguido de adultério, e por aí vai. Esse é o padrão da Bíblia, o homem como vaso de barro, frágil, porém disposto a ser transformado e quebrado na mão do oleiro. Personagens idealizados na perfeição de caráter e comportamento têm a ver com a necessidade de mostrar um padrão de conduta que queremos atingir enquanto cristãos, mas não são a realidade. Na GD a gente prefere mostrar os dilemas e o caminho para esse padrão de conduta, do que apresentar um personagem perfeitinho. Mas o caminho às vezes é bem enlameado, como na vida real.

AS: Associar fundamentos bíblicos com a Teoria do Apocalipse Zumbi não será considerado heresia?
LA: Depende do que consideramos heresia, rsrsr. Por exemplo, a GD é uma história de ficção, Eliseu voa, Carmela abre a boca e sai  um leão de fogo, Noé lança sementes no chão e imediatamente nascem árvores gigantescas, estamos falando de mundo fantástico. E no mundo fantástico é o escritor quem dá as cartas. Nesse contexto, o Apocalipse Zumbi não parece tão herege, ou parece? Rsrsr.

AS: A crítica severa à doutrina de certas igrejas neopentecostais causa alguma aversão a história em quadrinhos no segmento evangélico?
LA: Não, porque não criticamos a doutrina das igrejas neopentecostais. Criticamos o amor ao dinheiro, o comércio da fé, a graça barata, a egolatria, a hipocrisia. Isso não é privilégio exclusivo  de nenhuma igreja em especial. Jesus e João Batista confrontaram a raça de víboras no seu tempo. Ezequiel, Jeremias e Isaías, todos eles confrontaram o pecado, faz parte.

AS: A igreja trata os ilustradores da mesma forma que os cantores e pregadores? Já que esta linguagem artística é um método eficaz de evangelização?
LA: Não, na verdade, a igreja costuma ter medo de artistas, ou pelo menos, o pé atrás. Artista pensa, questiona, e isso pra muitos pastores é o pecado original, rsrsr. Os músicos estão associados aos antigos levitas, então pra eles é mais fácil porque hoje quando se pensa em culto, pensamos em pregação e louvor, embora nem sempre o culto tenha sido assim. Eu tenho sido muito bem recebida com os graffitis, com a arte profética e com a revista. O graffiti abre portas, a arte profética ainda não é muito conhecida e a revista é bem recebida, mas podia ser melhor. Por exemplo, de um modo geral, quando um pastor pensa em revista, pensa em dois tipos: revista de escola bíblica dominical ou material para evangelismo. Revistas que tenham a função de doutrinar um público específico dentro da igreja ou fora dela. Se traz este retorno para o rebanho, ele investe. Uma revista como a GD não tem essa função de doutrinar, nem de "alcançar almas". Embora a gente caminhe na doutrina, e a gente acabe impactando pessoas não-cristãs pela forma não-religiosa de abordar o relacionamento com Jesus. A função da GD é estimular a criatividade, o prazer na leitura, o lazer. O pragmatismo pastoral costuma negligenciar estas coisas como se fossem menos importantes. Mas a fé é a  certeza das coisas que não se vêem, então fé tem a ver com criatividade. Ver um caminho onde não há, é tarefa para mentes criativas; o prazer na leitura de uma HQ vai preparar o leitor para a leitura de textos bíblicos densos; e o momento de lazer é onde temos o ócio criativo, propício a reflexão na Palavra de Deus. Enfim como falei, tudo é uma questão de pragmatismo e ignorância. E certamente o Reino perde com estas coisas.

AS: Como você vê o mercado independente de histórias em quadrinhos no Brasil?
LA: Trabalho de formiguinha. Principalmente pra GD, que tem conteúdo religioso. 
  
AS: O que precisa ser feito para os jovens terem uma identificação maior com super-heróis nacionais? Principalmente os que sejam oriundos das escrituras sagradas?
LA: Acho que os jovens se identificam de cara. A principio pensamos em fazer a GD para crianças, mas quem chegou junto foram os adultos. Então focamos neste público alvo. Mas as crianças amam, também, eu tenho vontade de fazer uma série da GD voltada para o público infantil, tipo aqueles caderninhos pra desenhar e pintar. Com desenhos infantis, esta série sim, seria focada para aulas, e pra ir preparando este público para as histórias quando chegarem na adolescência. Acho que falta mesmo investimento em publicidade, em estrutura de marketing. Mas agora, isso pra nós é impossível. Também há o fato que a juventude atual não lê revista, a linguagem deles é a internet. Enquanto estávamos postando as tirinhas do Stand up com Jesus, o blog tava bombando, por isso essa era nossa alternativa inicial. Mas pra ano que  vem teremos novidades e vamos retomar as postagens semanais no blog.
  
AS: Qual a estratégia utilizada para que a revista forme público em outros estados do Brasil?
LA: Eu e  André somos missionários. No momento, por falta de uma equipe de trabalho, a Guerreiros está um pouco de lado. Temos projetos que são prioridades como o evangelismo profético no lixão de Itaoca, que inclui uma ação social intensa e os preparativos para a Escola de Profetas em 2014, que inclui projetos e livros didáticos. É muita coisa para eu e André administrarmos sozinhos. Tudo o que podemos fazer agora é levar a revisa aonde vamos. Não temos tempo para fazer outros planos nem projetos. A revista n. 4 já deveria ter saído, a revista se banca, mas não paga minhas contas ainda. Por isso nós temos que ficar com o pragmatismo missionário (rsrsrsr), focando nestas duas missões já que a GD toma muito tempo.
  
AS: Quais são seus próximos projetos para os Guerreiros de Deus?
LA: A revista para pintar, com um caderno de jogos para o público infantil, pensada para EBD. As action figures... Novidades no blog. É isso.



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*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.