quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Graffiti antes que seja tarde!

Na adolescência seu modo de indignação era recorrer as pichações pelos muros da cidade. Porém veio um novo tempo e o amadurecimento, que originou num inestimável legado de arte urbana pelo Rio de Janeiro, Brasil e mundo. Estou falando de Dante Urban, que atualmente interfere no panorama da Baixada Fluminense com sua grafia mágica, concedendo cores aos municípios esquecidos pelo poder público. Tive o privilégio de entrevistá-lo para nossa Rádio, veja o que pensa este ator social:  
                          

Alessandro Swinerd: O que foi determinante para você entrar na cena do Graffiti?
Dante Urban: Em 1999 estava no auge da pichação, curtia muito, mas recebi um convite pra fazer um curso de Graffiti na Chatuba, em Mesquita. Tive o contato bem rápido, mas gostei. Como já desenhava comecei a entrar na pegada dos estilos e ao mesmo tempo com oficinas; o pouco que aprendi passei pra outros, junto com uma galera do Hip Hop. Pois na época os quatro elementos eram bem mais unidos.

AS: Quais os maiores eventos que suas obras foram exibidas?
DU: Os maiores eventos pra mim são: a rua e as amizades que conquistamos. Todos os Graffitis sejam em muros, telas, galeria, evento ou sozinho, gosto de pintar e agitar a cena. Participei do Muro por La Paz (2011), maior muro grafitado do mundo na época. Creio que esse foi especial por conta dos contatos e amizades.

AS: Como analisa a atuação dos artistas urbanos na Baixada Fluminense?
DU: Vejo de uma maneira positiva, apesar de todos terem defeitos, sei quem faz a cena e sei quem ganha com ela, nós que estamos diariamente sabemos que existe uma galera que faz valer à pena e outra que só quer se aproveitar da cena. Mas a grande maioria está no caminho certo tendo humildade e respeito, pois na rua se você não tiver isso será difícil viver por ela.

AS: Você realiza intervenções por diversos municípios. Há um retorno financeiro, ou é simplesmente por paixão a arte?
DU: Realizo, pois sou multiplicador. Quero que a cena cresça. Existe uma galera que começou a pintar na minha levada, e que até hoje estão fazendo o que eu gosto - ser multiplicador. Conseguimos algum retorno, pois vivemos disso, outros não. Mas nossa bandeira é o Graffiti, faremos com apoio ou sem. Botamos o sangue, a Baixada precisa disso. Mas em todas as áreas.

AS: O Grafite tem um cunho social, certo? Já participou de alguma instituição que desenvolva um programa socio-educativo em comunidades carentes?  
DU: participei de varias, creio que naquele momento foi especial pelo contato com a galera que não conhecia a arte do Graffiti e do Hip Hop. Mas vejo que a maioria dessas instituições não tem o propósito de multiplicar mesmo. Infelizmente, vejo muitos se aproveitando do momento ao invés de ajudar quem precisa.
  
AS: A BXD Graffiti é uma loja destinada ao público das artes visuais. Também pode ser considerada um “QG” dos grafiteiros, onde são organizados projetos para alterarem o panorama da cidade?
DU:  A idéia da loja foi pensando nisso, na verdade a gente sempre tinha uma grande necessidade de material e íamos ao centro do Rio e Tijuca, lugares longes. Uma loja na Baixada seria de grande importância, pois movimentaria a cena local e também faria um encontro da galera. Temos 1 ano e poucos meses, mas sabemos que as paradas vão fluir. Alguns estão montando marcas de roupas, outros estão virando designers, e temos uma grande influência nos grafiteiros locais. Sabemos quem faz a cena na Baixada de verdade e busco através da loja fortalecer ainda mais .

AS: Alguns dias atrás numa rede social, você se posicionou contrário a um “Concurso de Graffiti” que iria premiar três desenhos que representassem a consciência negra. Isto não é uma forma de promover esta linguagem artística na região e dar oportunidades a novos talentos?
DU: Sim, na verdade a posição foi minha e de todos... a grande maioria dos grafiteiros. Pois antes, a Prefeitura apagou mais de 1 km de intervenções. Premiar num acontecimento desses é impossível, não se valoriza dando dinheiro pra uns e deixando vários de fora. Graffiti não é competição! Não é futebol, torneio, Graffiti é muito mais que isso. A Prefeitura viu essa posição nossa e modificou a idéia, porque não rola isso no nosso meio. Se você vê uma ação de Graffiti onde a galera peça dinheiro e não seja transparente, se posicione, pois está errado. No Graffiti a maioria leva seu próprio material e pinta sem cobrar ao morador ou Prefeitura, e quem quer que seja. Agora se for um trampo comercial é outra parada. Vejo que hoje em dia algumas ações viraram grandes pólos de comércio, onde alguns perderam a essência da cultura. Sei que esses também são os aproveitadores pois toda cultura tem os seus...
   
AS: O que deve ser feito então pelas prefeituras locais para fortalecer o movimento na Baixada Fluminense?
DU: Tem que ser parceiras de alguma forma - seja incentivando, liberando espaços públicos, dando um direcionamento, botando alguém que fale a mesma língua. Ninguém aqui quer ganhar dinheiro com eles, tão pouco pedir emprego. Queremos mais valor e respeito. A fama a gente ganha nas pessoas que moram aqui; e o valor de quem mora na Baixada é o principal. Moramos aqui e queremos uma Baixada explodindo de Graffiti e arte, em locais onde precisam estar bombando e incentivando os jovens. Paz!


Acesse:
Dante Urban 
BXD Graffiti Shop 


*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O poeta de versos atômicos


No estúdio montado em casa produziu sua discografia, os três CDs: Nêutrons - partícula n. 1 (2011), Figuras de linguagem (2011) e Impune (2013). Com voz grave e inconfundível, o rapper Átomo U-Sal propaga sua ideologia denunciando a banalização da fé, o consumismo, a política nefasta e outros temas inerentes a sociedade brasileira. Este poeta urbano de versos atômicos é o nosso entrevistado desta semana.


        

Alessandro Swinerd: Quando despertou seu interesse pelo Hip-Hop?
Átomo U-Sal: Por volta de 1996, através dos Racionais MC’s.

AS: E como percebeu a possibilidade de se tornar letrista e rapper?
AU: Antes mesmo de escrever letras de rap, eu já fazia outras influenciadas por bandas de rock dos anos 80, como Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e Barão Vermelho.

AS: Pode me explicar esta concentração de rappers em Nova Iguaçu. Principalmente no bairro Morro Agudo?
AU: É algo que aconteceu de modo natural, já que ninguém se conhecia. O agente (U-Sal) começou na MAB (Movimento das Associações de Bairro) em Nova Iguaçu, e foi lá que conheci o Dudu de Morro Agudo, depois Fator Baixada e Léo da XIII, aí juntamos força na nossa área, aí vieram os outros.

AS: Suas músicas primam pelas questões sociais, mas em algumas há uma visão irônica dos fatos – inserções de uma risada com tom ácido. Por quê?
AU: Eu escrevo de acordo com o projeto que estou realizando no momento, uns tem um abordagem mais séria, outras mais descontraídas, como no caso do CD “Impune”, mas nem por isso menos sérias.

AS: Qual o motivo da constante referência à mula falante do profeta Balaão?
AU: A mula falante é do “Impune”, o das risadas ácidas. É um dos meus alter-egos, no primeiro disco “... Dando o Ar Da graça”, eu falo principalmente da corrupção e legalismo dentro do sistema religioso. Tendo como base a graça de Deus, que lança por terra todo o peso da acusação.

AS: Você sofre algum preconceito no movimento Hip-Hop por crer na doutrina do Cristianismo?
AU: Não. Dentro do Hip-Hop há a questão de respeitar o discurso alheio, ainda que não concorde com ele. Além do mais, eu não uso o termo “gospel” que em minha opinião, só serve para fazer comércio e separação dos demais. Ninguém diz que faz rap candomblé, rap católico etc. Eu faço rap simplesmente, a mensagem cristã é natural.

AS: Todos seus trabalhos são independentes? Como realiza o processo de produção, distribuição e divulgação dos CDs?
AU: Sim, todos são independentes. Produzidos, gravados, mixados e masterizados na minha casa, com algumas pequenas exceções. A questão da distribuição e divulgação é sempre gratuita, pela internet, e também através do material físico nos eventos.

AS: A distância dos grandes centros artísticos inibe a visibilidade das manifestações culturais que estão ocorrendo na periferia?
AU: Acredito que sim, mas eu não me importo com isso, eu faço meu trabalho simplesmente. Eu não me preocupo com o público, a crítica etc. Sou muito cru pra pensar em jogadas de marketing, pra romper essa distância.

AS: Sendo um dos representantes da cultura negra na Baixada Fluminense, que medidas devem ser tomadas pelo governo municipal e estadual para restituir estas décadas de descaso com os afrodescendentes?
AU: Sou favorável às políticas públicas de auto-afirmação, principalmente pelo fato de achar que isso funciona como uma indenização pelos séculos de trabalho não remunerado. Algumas coisas estão melhorando, mais acho que ainda falta muito para termos uma posição melhor. No meu caso, eu não espero pelo governo e nem pelas organizações negras, diariamente eu milito no trabalho, em casa e na rua.



Acesse:
Átomo U-Sal (blog)


*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Criando novos horizontes culturais para o reino


São 20 anos de experiência na área de produção artística, os quais foram vividos dentro de emissoras como Globo, Rede Record e SBT, Verônica Brendler traz agora toda esta bagagem para o cenário evangélico. Através de sua empresa a Agenda Cultural Brasil, ela tem provocado uma “revolução” no eixo Rio - São Paulo, em meses tornou realidade o Encontro de Cineastas Cristãos e o Festival Nacional de Cinema Cristão, exibido ao vivo pela TV Boas Novas no dia 26 de outubro. A Rádio Atitude conseguiu achar um horário na semana cheia de compromissos desta produtora, e assim presentear os leitores com uma personalidade tão notável.




Alessandro Swinerd: Verônica, quando notou que havia potencial no segmento evangélico para ministrar cursos de Elaboração de Projetos?
Verônica Brendler: A Musica Gospel cresceu muito, hoje é o mercado que mais cresce e mais vende, só fica atrás do sertanejo. Pela lei se produz grandes eventos, CDs, DVDs, turnês, e muito mais, mas sem recursos fica inviável. Em 2008 quando fiz o primeiro Curso de Produção Cultural percebi o quanto podemos crescer. E em 2010 iniciei as palestras e cursos, e hoje já aprovamos mais de 60 projetos na Lei Rouanet.

AS: Nesta década teve um “boom” de produções audiovisuais de diretores cristãos em vários estados do Brasil. O que impulsionou este fenômeno?
VB: Hoje temos mais de 100 curtas metragens produzidos e mais de 20 núcleos de Longas Metragens. É importante lembrar que o primeiro filme cristão no Brasil foi produzido em 1983 - “Que diferença faz?”. Surgiram outras produções, mas na última década é que os diretores se profissionalizaram mais e viram o cinema como uma estratégia pra fomentar a Cultura Cristã.

AS: O Encontro de Cineastas Cristãos tem dado resultados positivos. Pode mencionar alguns?
VB: Mensalmente realizamos os Encontros no Rio (9ª edição - 18/11) e de 2 em 2 meses em Campinas (3ª edição). Já vemos melhores produções, melhores roteiros. Nosso segmento carece de muitas informações. O evento tem como objetivo formar novos olhares, dar visibilidade aos cineastas e suas obras, unir a classe de produtores, diretores, atores, profissionais da arte, distribuidores e exibidores e reunir também personalidades ligadas às atividades cinematográfica do meio secular. Estimular também os profissionais a produzirem obras com mais qualidade para disseminar valores e fomentar a Cultura Brasileira.

AS: O templo durante séculos ficou restrito às questões religiosas. Como é tratar de assuntos concernentes a sétima arte dentro dele?
VB: Durante anos ouvimos dos púlpitos que cinema era pecado (falo com propriedade, pois tenho 38 anos de igreja). A igreja só se preocupava com o lado espiritual, não focava o lado cultural e profissional. Graças a Deus isso já mudou e as lideranças vêem o Cinema como uma grande estratégia. Deus é que distribui o talento como lhe apraz, para glorificação do seu nome.

AS: Sendo uma produtora experiente, você tem observado as carências que existem na formatação de projetos segundo as normas exigidas pelos Editais de Leis de Incentivo. O que deve ser feito pelo Ministério da Cultura, e órgãos da esfera estadual e municipal para que os editais sejam mais acessíveis a classe artística?
VB: Os editais são muito acessíveis, basta entrar nos sites governamentais e das empresas. Talvez uma divulgação maior. A maior dificuldade está nos produtores cristãos que inserem os projetos com linguagem cristã. Sendo assim os projetos são indeferidos.

AS: O que é produzir o Festival Nacional de Cinema Cristão?
VB: Já realizamos a 1ª Mostra de Cinema Cristão em outubro de 2012, mas produzir o Festival foi uma experiência e tanto! Toda vez que você produz algo novo, precisa ter muita convicção e certeza de tudo que está fazendo. A guerra espiritual foi muito grande, tinha momentos que de meia em meia hora parava todo o trabalho e entrava em oração pra paralisar as ações do inimigo. Resumo, muita fé e coragem, muita oração e muito trabalho.

AS: Qual a relevância deste evento para o Cinema Brasileiro?
VB: Nossa proposta é disseminar os valores familiares e muitos filmes do cinema brasileiro já propagam essas verdades, como Central do Brasil e muitos outros. O evento vem pra agregar o cinema brasileiro e estimular os cineastas a produzirem mais e com mais qualidade. Recebemos o convite do “Festival do Rio” pra participar com as nossas obras. Isso prova o reconhecimento de grandes profissionais.

AS: Você considera que sua atuação empreendedora mobilizará outros grupos e festivais de temática cristã pelo país?
VB: Espero que sim! Seria muito bom se outros produtores também realizassem festivais e mostras.

AS: O Festival dará vôos mais altos ano que vem? Como, se tornar de nível internacional?
VB: Fechamos uma parceria com o “Gideon Film Festival”, um dos maiores festivais de Cinema Cristão americano. O Melhor Longa Metragem terá o seu filme exibido no festival e o (a) diretor (a) terá a sua passagem paga.

AS: Que outros projetos estão em vista?
VB: Produzimos o curta metragem “O Reencontro do Amor”, com a proposta de restaurar casamentos. Vamos exibi-lo no cinema, nas igrejas, escolas, faculdades e comunidades. Em dezembro iniciaremos o “Cinema na Praça”. Já fechamos  algumas cidades. Em março de 2014 também iniciaremos os Workshops sobre Cinema no Rio de Janeiro.

AS: Quais são as maiores dificuldades do segmento?
VB: A maior dificuldade é a falta de recursos, somos limitados sem eles. Desafio os empresários a investirem nos projetos, além de terem a sua logomarca em evidencia, beneficiam o crescimento do Reino de Deus. Solicite uma proposta. 


Acesse:
Cinema Cristão


*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O cinema que transforma


Ele é da Baixada Fluminense, porém diz que seu território é o mundo. Com seus amigos fundou a 4U Films, que tem produzido clipes, curtas e um longa, tudo para o engrandecimento do audiovisual cristão. Destas obras algumas atravessaram as fronteiras do Brasil, que são os filmes Não me deixe te deixar e Dom gratuito. Batemos um papo com o diretor Miguel Nagle, e pudemos constatar o que passa por sua cabeça pensante.  




Alessandro Swinerd: Miguel, quais são suas influências cinematográficas?
Miguel Nagle: Minha maior influencia é *C.S. Lewis, um excepcional contador de histórias. Diretores que tive contato que me influenciam bastante é o *Fernando Meirelles, *Laís Bodanzky e *Philippe Barcinski. Gosto bastante também de *Tarantino.

AS: Quando surgiu a idéia de fundar uma produtora de filmes evangélicos na Baixada Fluminense?
MN: Em 2009, eu, Luan e Douglas fundamos a 4U Films. Somos da mesma igreja e já estudávamos cinema. Deus colocou no nosso coração o desejo de usar nosso dom com a sétima arte para transformar vidas e fazer filmes com excelência. Mas nosso objetivo nunca foi fazer uma produtora clássica e sim um ministério de cinema, que vivesse isso além da arte, mas com um propósito. Hoje não considero a 4U Films uma produtora da baixada fluminense, me orgulho muito de ser daqui, mas ela não foi criada pra ser algo local e sim para o mundo, hoje temos profissionais trabalhando conosco da capital do Rio, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Natal, Vitória e outros lugares, nossos filmes também são legendados em português para possibilitar deficientes auditivos assistir; legendamos em inglês e espanhol também. Então a 4U é um ministério que nasceu no coração de Deus, com base em Nova Iguaçu, mas para o mundo.

AS: As produções da 4U Films vem recebendo elogios da crítica especializada. Qual a fórmula para reunir profissionais de alta qualidade técnica num espaço tão curto de tempo?
MN: Não tem uma fórmula, muitos não sabem, mas a qualidade técnica não é prioridade para fazer parte do grupo e sim o direcionamento de Deus. A maioria não era profissional antes de entrar na 4U Films e sim estudantes de Cinema, Audiovisual e RTV. Muito importante também são os sonhos, comunhão com Deus e o perfil desse profissional em relação ao ministério. O bacana da 4U Films que somos uma família, onde crescemos e aprendemos juntos. E eu como líder apoio muito pra todos correrem atrás do conhecimento tanto espiritual e no profissional, acho que o resultado disso tudo tem refletido nas telas e agradado também a crítica especializada "secular".

AS: Tudo começou com o curta-metragem “Não me deixe te deixar”, depois dele a produtora teve uma ascensão meteórica. Isto é fruto da transpiração do grupo? Ou pode dizer que existe um toque divino nesta história?
MN: Sem querer usar um clichê gospel, mas o que nos motiva é Deus. Todos têm um chamado bem especifico na área de cinema, então a dedicação e a busca pela qualidade nos influenciam bastante. 

AS: A 4U Films realiza cursos, palestras e seus filmes são selecionados em vários festivais. Que ações mais devem ser feitas para que o Cinema Cristão ganhe força no mercado audiovisual brasileiro?
MN: Acho que falta a liderança (pastores) precisa olhar mais para arte cinematográfica, acredito que o dinheiro não seja o problema, pois a música está muito bem estabelecida no mercado, mas o cinema ainda está engatinhando. Com a liderança apoiando, vão crescer o número de profissionais e projetos, ajudando a fomentar o cinema cristão no Brasil.

AS: De que forma aconteceu esta parceria entre vocês e a Cia de Artes Nissi para a produção do longa-metragem “Metanóia”?
MN: Eu conheço o Caique, líder da Cia Nissi, desde 2007 quando foram ministrar uma peça na minha igreja. Mantemos contato e sempre conversamos sobre alguns sonhos e projetos. O Caique tinha um argumento pra um filme e momento certo Deus uniu os dois ministérios pra escrever e realizar esse filme juntos.

AS: Quais os pontos positivos e negativos de fazer este filme, em São Paulo, sem recursos provindos das Leis de Incentivo a Cultura?
MN: Fazer cinema no Brasil sem uma grande estrutura financeira é bem complicado, acho que a maior dificuldade foi à verba, ainda mais quando se trata de um longa-metragem com mais de 50 diárias de filmagem. Mas graças a Deus conseguimos multiplicar a verba e conseguimos bastantes parceiros.

AS: Na obra houve participação de artistas consagrados: Caio Blat, Silvio Guindane, Solange Couto e Thogun. Como eles encararam atuar num filme que a mensagem central é a transformação de vidas através da Palavra de Deus?
MN: Foi bem natural trabalhar com eles, todos se apaixonaram pela história do roteiro e estavam muito motivados para participar do filme. O Metanóia nada mais é do que um filme sobre um personagem que passou pelo submundo do crack e conseguiu vencer através da fé! Acho que a arte transcende um pouco alguns preconceitos ou rótulos, então foi bem tranqüilo trabalhar com esses atores.
 
AS: Quando será o lançamento do longa “Metanóia”?
MN: A previsão é que seja no meio do ano que vem.

AS: A 4U Films já tem novas produções em andamento?
MN: A 4U Films não para, estamos finalizando três curtas e dois documentários. Temos diversos roteiros em andamento de curtas e longas. Em breve teremos muitas novidades!



Notas
*C.S. Lewis: teólogo e escritor britânico, autor da clássica trilogia As crônicas de Nárnia;
*Fernando Meireles: cineasta, roteirista e produtor brasileiro, que foi diretor do aclamado longa Cidade de Deus entre outras obras;
*Laís Bodanzky: cineasta e roteirista brasileira, que dirigiu o premiado filme Bicho de sete cabeças;
*Philippe Barcinski: cineasta, roteirista e produtor brasileiro, que dirigiu o filme Não por acaso;  
*Quentin Tarantino: roteirista e produtor norte-americano, que causou alvoroço no cinema com a obra Pulp fiction. Também tem no currículo Kill Bill vol. 1 e 2, e outros sucessos.
  

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*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Guerreiros que estão muito além dos credos


Ela mora em Niterói, terra de Araribóia, e exerce várias funções - missionária, educadora, escritora, grafiteira e ilustradora são algumas delas. Estamos falando de uma mente prodigiosa, chamada Lya Alves, que com a colaboração do roteirista André Alves (também seu marido) criaram a história em quadrinhos Guerreiros de Deus. Onde jovens brasileiros agraciados por super-poderes são recrutados pela AIS - Agência de Investigação Sobrenatural, tendo como missão combater seres infernais que estão invadindo o mundo para implantar o Apocalipse Zumbi.
As revistas publicadas de forma independente - Estrela Cadente, Destino/Operação Resgate e Conspiração (edições n. 1, 2 e 3), vêm conquistando centenas de fãs através de seu conteúdo fantástico impresso pelo traço magistral da autora. Tivemos o prazer de entrevistá-la, e trazer aos nossos leitores uma centelha deste universo tão intrigante.




Alessandro Swinerd: O que te inspirou em criar os super-heróis Guerreiros de Deus? E quanto tempo leva para a produção da história em quadrinhos?
Lya Alves: A Guerreiros de Deus começou com brincadeiras entre eu e André. A gente sempre brinca com jogos de desenhos. O André também desenha, o traço dele é mais cartoon, e a gente sempre ficava brincando de criar personagens para zoar amigos. Assim nasceu o primeiro personagem, reverendo Nelson, rsrsr. Depois veio a Jezabel, e daqui a pouco a gente tinha um grupo de Guerreiros pronto. Como eram inspirados em personagens da vida real, os personagens tinham um perfil psicológico forte, não era só o cara fortão que é herói porque sofreu uma tragédia, ou o vilão não é vilão só porque é louco. 
Com relação ao tempo de produção, agora o André está sem tempo de escrever os roteiros porque está no processo de gravação do segundo CD. Mas eu levo 1 dia pra desenhar e arte finalizar uma página. Por isso a partir da edição n. 3, diminuímos a quantidade de páginas. Mas não é só isso. Tem o tempo de criação do roteiro, tem depois o tempo de preparo de material de divulgação, depois o tempo de divulgação na internet e nas redes sociais, a distribuição das revistas, e não temos uma equipe ainda, nem dinheiro para investir em publicidade, que é fundamental.

AS: Por que estes personagens de temática cristã fogem ao comportamento convencional?
LA: A Guerreiros de Deus nasceu assim, e tivemos cuidado de manter essa característica, adotando esse pé na realidade como estratégia na criação de personagens. Por isso os personagens têm uma carga de relatividade, o malvado pode não ser tão malvado, e os heróis têm imperfeições às vezes bem acentuadas. E com relação à temática cristã, na verdade, a imperfeição é o padrão do homem na Bíblia. O homem nasce pecador, não é uma opção, é uma herança que vem do Éden. Assim temos um Abrão mentindo pra Faraó, um Jacó mentiroso e usurpador, sem contar em Davi, o homem segundo o coração de Deus, que comete um crime premeditado seguido de adultério, e por aí vai. Esse é o padrão da Bíblia, o homem como vaso de barro, frágil, porém disposto a ser transformado e quebrado na mão do oleiro. Personagens idealizados na perfeição de caráter e comportamento têm a ver com a necessidade de mostrar um padrão de conduta que queremos atingir enquanto cristãos, mas não são a realidade. Na GD a gente prefere mostrar os dilemas e o caminho para esse padrão de conduta, do que apresentar um personagem perfeitinho. Mas o caminho às vezes é bem enlameado, como na vida real.

AS: Associar fundamentos bíblicos com a Teoria do Apocalipse Zumbi não será considerado heresia?
LA: Depende do que consideramos heresia, rsrsr. Por exemplo, a GD é uma história de ficção, Eliseu voa, Carmela abre a boca e sai  um leão de fogo, Noé lança sementes no chão e imediatamente nascem árvores gigantescas, estamos falando de mundo fantástico. E no mundo fantástico é o escritor quem dá as cartas. Nesse contexto, o Apocalipse Zumbi não parece tão herege, ou parece? Rsrsr.

AS: A crítica severa à doutrina de certas igrejas neopentecostais causa alguma aversão a história em quadrinhos no segmento evangélico?
LA: Não, porque não criticamos a doutrina das igrejas neopentecostais. Criticamos o amor ao dinheiro, o comércio da fé, a graça barata, a egolatria, a hipocrisia. Isso não é privilégio exclusivo  de nenhuma igreja em especial. Jesus e João Batista confrontaram a raça de víboras no seu tempo. Ezequiel, Jeremias e Isaías, todos eles confrontaram o pecado, faz parte.

AS: A igreja trata os ilustradores da mesma forma que os cantores e pregadores? Já que esta linguagem artística é um método eficaz de evangelização?
LA: Não, na verdade, a igreja costuma ter medo de artistas, ou pelo menos, o pé atrás. Artista pensa, questiona, e isso pra muitos pastores é o pecado original, rsrsr. Os músicos estão associados aos antigos levitas, então pra eles é mais fácil porque hoje quando se pensa em culto, pensamos em pregação e louvor, embora nem sempre o culto tenha sido assim. Eu tenho sido muito bem recebida com os graffitis, com a arte profética e com a revista. O graffiti abre portas, a arte profética ainda não é muito conhecida e a revista é bem recebida, mas podia ser melhor. Por exemplo, de um modo geral, quando um pastor pensa em revista, pensa em dois tipos: revista de escola bíblica dominical ou material para evangelismo. Revistas que tenham a função de doutrinar um público específico dentro da igreja ou fora dela. Se traz este retorno para o rebanho, ele investe. Uma revista como a GD não tem essa função de doutrinar, nem de "alcançar almas". Embora a gente caminhe na doutrina, e a gente acabe impactando pessoas não-cristãs pela forma não-religiosa de abordar o relacionamento com Jesus. A função da GD é estimular a criatividade, o prazer na leitura, o lazer. O pragmatismo pastoral costuma negligenciar estas coisas como se fossem menos importantes. Mas a fé é a  certeza das coisas que não se vêem, então fé tem a ver com criatividade. Ver um caminho onde não há, é tarefa para mentes criativas; o prazer na leitura de uma HQ vai preparar o leitor para a leitura de textos bíblicos densos; e o momento de lazer é onde temos o ócio criativo, propício a reflexão na Palavra de Deus. Enfim como falei, tudo é uma questão de pragmatismo e ignorância. E certamente o Reino perde com estas coisas.

AS: Como você vê o mercado independente de histórias em quadrinhos no Brasil?
LA: Trabalho de formiguinha. Principalmente pra GD, que tem conteúdo religioso. 
  
AS: O que precisa ser feito para os jovens terem uma identificação maior com super-heróis nacionais? Principalmente os que sejam oriundos das escrituras sagradas?
LA: Acho que os jovens se identificam de cara. A principio pensamos em fazer a GD para crianças, mas quem chegou junto foram os adultos. Então focamos neste público alvo. Mas as crianças amam, também, eu tenho vontade de fazer uma série da GD voltada para o público infantil, tipo aqueles caderninhos pra desenhar e pintar. Com desenhos infantis, esta série sim, seria focada para aulas, e pra ir preparando este público para as histórias quando chegarem na adolescência. Acho que falta mesmo investimento em publicidade, em estrutura de marketing. Mas agora, isso pra nós é impossível. Também há o fato que a juventude atual não lê revista, a linguagem deles é a internet. Enquanto estávamos postando as tirinhas do Stand up com Jesus, o blog tava bombando, por isso essa era nossa alternativa inicial. Mas pra ano que  vem teremos novidades e vamos retomar as postagens semanais no blog.
  
AS: Qual a estratégia utilizada para que a revista forme público em outros estados do Brasil?
LA: Eu e  André somos missionários. No momento, por falta de uma equipe de trabalho, a Guerreiros está um pouco de lado. Temos projetos que são prioridades como o evangelismo profético no lixão de Itaoca, que inclui uma ação social intensa e os preparativos para a Escola de Profetas em 2014, que inclui projetos e livros didáticos. É muita coisa para eu e André administrarmos sozinhos. Tudo o que podemos fazer agora é levar a revisa aonde vamos. Não temos tempo para fazer outros planos nem projetos. A revista n. 4 já deveria ter saído, a revista se banca, mas não paga minhas contas ainda. Por isso nós temos que ficar com o pragmatismo missionário (rsrsrsr), focando nestas duas missões já que a GD toma muito tempo.
  
AS: Quais são seus próximos projetos para os Guerreiros de Deus?
LA: A revista para pintar, com um caderno de jogos para o público infantil, pensada para EBD. As action figures... Novidades no blog. É isso.



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*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

UFC 165 - O duelo de titãs




“Uma luta épica!”, foi desta forma que a imprensa mundial classificou a luta da madrugada do dia 22 de setembro do UFC 165, entre Jon Jones e Alexander Gustafsson no Air Canada Centre, em Toronto. Realmente o octógono teve 5 rounds de pura adrenalina, pois qualquer um dos lutadores poderia sair com o cinturão. Pela primeira vez impuseram duas quedas e um profundo corte no supercílio direito ao campeão dos meio-pesados do UFC, que o incomodou por boa parte do confronto devido o sangramento constante.

O desafiante Gustafsson não se intimidou com o apoio do público a Jon Jones, tratando de impor seu jogo nos minutos iniciais do combate. A boa movimentação do sueco dificultou a eficácia dos golpes de Jones, principalmente suas impiedosas cotoveladas que tem sido um poderoso recurso contra os adversários. Utilizando um boxe afiado, Gustafsson superou em certos momentos o muay thai de Jones, o que provocou surpresa a todos que assistiam o evento no ginásio e pela TV. Considerado como o lutador mais completo da atualidade, o americano sofreu severos jabs  que resultaram em pontuais hematomas no rosto. Sua guarda teve dificuldades para neutralizar os socos de Gustafsson. O mesmo porte físico prejudicava a técnica de distanciamento muito utilizada por Jon Jones, que surtira efeito em outros combates com lutadores de menor estatura.

A partir do terceiro round o panorama inverteu, o americano soube se favorecer do cansaço do oponente para aplicar chutes frontais e joelhadas. Tendo o rendimento diminuído drasticamente, Gustafsson começou a sentir na pele a potência dos golpes liberados por Jones. A crescente atuação do americano dentro do octógono levou Gustafsson a deixar de lado sua postura agressiva, e ficar os minutos restantes se esquivando das investidas de seu algoz.

Nos últimos rounds Jones abriu seu arsenal de cotoveladas giratórias, minando aos poucos a resistência de Gustafsson. O europeu acreditava numa sobrevida, trôpego ia para cima do campeão, mas seus socos haviam perdido a força. Jones experiente seguia pontuando. O sinal decretou o encerramento da luta, ambos gladiadores do século XXI vibravam e a torcida ensandecida gritava o nome de Jon Jones. Alguns minutos depois era entregue o resultado. Na decisão unânime dos jurados: 48-47 / 48-47 / 49-46, o norte-americano pela sexta defesa consecutiva mantinha o cinturão dos meio-pesados.

Fica uma lição, Jones não é este lutador imbatível que muitos teimam em dizer. Sua hegemonia ficou míseros centímetros do abismo, quase o fenômeno do MMA viu um currículo vitorioso arremessado na lona; e Dana White deve ter sentido calafrios ao imaginar isto. Diante destas coisas paira no ar a pergunta – Um adversário extremamente técnico, com maior efetividade nos golpes poderá derrotá-lo?      



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Negrume


Saindo do porão
Descendo a ladeira
Molhando a camisa.
Farelos jogados para o povo.

Usam o poder indevidamente.
Neste ínterim apareci, desenvolvi e parti.

Subindo o morro
Adentrando no beco
Enxugando a lágrima.
Paliativos elaborados para o proletariado.

Sugam o oxigênio aterradoramente.
Neste ínterim apareci, desenvolvi e parti.