Ela mora em Niterói, terra de Araribóia, e exerce várias funções - missionária, educadora, escritora, grafiteira e ilustradora são algumas delas. Estamos falando de uma mente prodigiosa, chamada Lya Alves, que com a colaboração do roteirista André Alves (também seu marido) criaram a história em quadrinhos Guerreiros de Deus. Onde jovens brasileiros agraciados por super-poderes são recrutados pela AIS - Agência de Investigação Sobrenatural, tendo como missão combater seres infernais que estão invadindo o mundo para implantar o Apocalipse Zumbi.
As revistas publicadas de forma
independente - Estrela Cadente, Destino/Operação Resgate e Conspiração
(edições n. 1, 2 e 3), vêm conquistando centenas de fãs através de seu conteúdo
fantástico impresso pelo traço magistral da autora. Tivemos o prazer de
entrevistá-la, e trazer aos nossos leitores uma centelha deste universo tão
intrigante.
Alessandro Swinerd: O que te
inspirou em criar os super-heróis Guerreiros de Deus? E quanto tempo leva para
a produção da história em quadrinhos?
Lya Alves: A
Guerreiros de Deus começou com brincadeiras entre eu e André. A gente sempre
brinca com jogos de desenhos. O André também desenha, o traço dele é mais cartoon,
e a gente sempre ficava brincando de criar personagens para zoar amigos. Assim
nasceu o primeiro personagem, reverendo Nelson, rsrsr. Depois veio a Jezabel, e
daqui a pouco a gente tinha um grupo de Guerreiros pronto. Como eram inspirados
em personagens da vida real, os personagens tinham um perfil psicológico forte,
não era só o cara fortão que é herói porque sofreu uma tragédia, ou o vilão não
é vilão só porque é louco.
Com relação ao tempo de
produção, agora o André está sem tempo de escrever os roteiros porque está no
processo de gravação do segundo CD. Mas eu levo 1 dia pra desenhar e arte
finalizar uma página. Por isso a partir da edição n. 3, diminuímos a quantidade
de páginas. Mas não é só isso. Tem o tempo de criação do roteiro, tem depois o
tempo de preparo de material de divulgação, depois o tempo de divulgação na
internet e nas redes sociais, a distribuição das revistas, e não temos uma
equipe ainda, nem dinheiro para investir em publicidade, que é fundamental.
AS: Por que estes personagens de
temática cristã fogem ao comportamento convencional?
LA: A
Guerreiros de Deus nasceu assim, e tivemos cuidado de manter essa
característica, adotando esse pé na realidade como estratégia na criação de
personagens. Por isso os personagens têm uma carga de relatividade, o malvado
pode não ser tão malvado, e os heróis têm imperfeições às vezes bem acentuadas.
E com relação à temática cristã, na verdade, a imperfeição é o padrão do homem
na Bíblia. O homem nasce pecador, não é uma opção, é uma herança que vem do
Éden. Assim temos um Abrão mentindo pra Faraó, um Jacó mentiroso e usurpador,
sem contar em Davi, o homem segundo o coração de Deus, que comete um crime
premeditado seguido de adultério, e por aí vai. Esse é o padrão da Bíblia, o
homem como vaso de barro, frágil, porém disposto a ser transformado e quebrado
na mão do oleiro. Personagens idealizados na perfeição de caráter e
comportamento têm a ver com a necessidade de mostrar um padrão de conduta que
queremos atingir enquanto cristãos, mas não são a realidade. Na GD a gente
prefere mostrar os dilemas e o caminho para esse padrão de conduta, do que
apresentar um personagem perfeitinho. Mas o caminho às vezes é bem enlameado,
como na vida real.
AS: Associar fundamentos bíblicos com
a Teoria do Apocalipse Zumbi não será considerado heresia?
LA: Depende do que
consideramos heresia, rsrsr. Por exemplo, a GD é uma história de ficção, Eliseu
voa, Carmela abre a boca e sai um leão de fogo, Noé lança sementes no
chão e imediatamente nascem árvores gigantescas, estamos falando de mundo
fantástico. E no mundo fantástico é o escritor quem dá as cartas. Nesse
contexto, o Apocalipse Zumbi não parece tão herege, ou parece? Rsrsr.
AS: A crítica severa à doutrina de
certas igrejas neopentecostais causa alguma aversão a história em quadrinhos no
segmento evangélico?
LA: Não,
porque não criticamos a doutrina das igrejas neopentecostais. Criticamos o amor
ao dinheiro, o comércio da fé, a graça barata, a egolatria, a hipocrisia. Isso
não é privilégio exclusivo de nenhuma igreja em especial. Jesus e João
Batista confrontaram a raça de víboras no seu tempo. Ezequiel, Jeremias e
Isaías, todos eles confrontaram o pecado, faz parte.
AS: A igreja trata os ilustradores
da mesma forma que os cantores e pregadores? Já que esta linguagem artística é
um método eficaz de evangelização?
LA: Não,
na verdade, a igreja costuma ter medo de artistas, ou pelo menos, o pé atrás.
Artista pensa, questiona, e isso pra muitos pastores é o pecado original,
rsrsr. Os músicos estão associados aos antigos levitas, então pra eles é mais
fácil porque hoje quando se pensa em culto, pensamos em pregação e louvor,
embora nem sempre o culto tenha sido assim. Eu tenho sido muito bem recebida
com os graffitis, com a arte profética e com a revista. O graffiti abre portas,
a arte profética ainda não é muito conhecida e a revista é bem recebida, mas
podia ser melhor. Por exemplo, de um modo geral, quando um pastor pensa em
revista, pensa em dois tipos: revista de escola bíblica dominical ou material para
evangelismo. Revistas que tenham a função de doutrinar um público específico
dentro da igreja ou fora dela. Se traz este retorno para o rebanho, ele
investe. Uma revista como a GD não tem essa função de doutrinar, nem de
"alcançar almas". Embora a gente caminhe na doutrina, e a gente acabe
impactando pessoas não-cristãs pela forma não-religiosa de abordar o
relacionamento com Jesus. A função da GD é estimular a criatividade, o prazer
na leitura, o lazer. O pragmatismo pastoral costuma negligenciar estas coisas
como se fossem menos importantes. Mas a fé é a certeza das coisas que não
se vêem, então fé tem a ver com criatividade. Ver um caminho onde não há, é
tarefa para mentes criativas; o prazer na leitura de uma HQ vai preparar o
leitor para a leitura de textos bíblicos densos; e o momento de lazer é onde
temos o ócio criativo, propício a reflexão na Palavra de Deus. Enfim como
falei, tudo é uma questão de pragmatismo e ignorância. E certamente o Reino
perde com estas coisas.
AS: Como você vê o mercado
independente de histórias em quadrinhos no Brasil?
LA: Trabalho de
formiguinha. Principalmente pra GD, que tem conteúdo religioso.
AS: O que precisa ser feito para os
jovens terem uma identificação maior com super-heróis nacionais? Principalmente
os que sejam oriundos das escrituras sagradas?
LA: Acho que os jovens se
identificam de cara. A principio pensamos em fazer a GD para crianças, mas quem
chegou junto foram os adultos. Então focamos neste público alvo. Mas as crianças
amam, também, eu tenho vontade de fazer uma série da GD voltada para o público
infantil, tipo aqueles caderninhos pra desenhar e pintar. Com desenhos
infantis, esta série sim, seria focada para aulas, e pra ir preparando este
público para as histórias quando chegarem na adolescência. Acho que falta mesmo
investimento em publicidade, em estrutura de marketing. Mas agora, isso pra nós
é impossível. Também há o fato que a juventude atual não lê revista, a
linguagem deles é a internet. Enquanto estávamos postando as tirinhas do Stand
up com Jesus, o blog tava bombando, por isso essa era nossa alternativa
inicial. Mas pra ano que vem teremos novidades e vamos retomar as
postagens semanais no blog.
AS: Qual a estratégia utilizada para
que a revista forme público em outros estados do Brasil?
LA: Eu e André
somos missionários. No momento, por falta de uma equipe de trabalho, a
Guerreiros está um pouco de lado. Temos projetos que são prioridades como o
evangelismo profético no lixão de Itaoca, que inclui uma ação social intensa e
os preparativos para a Escola de Profetas em 2014, que inclui projetos e livros
didáticos. É muita coisa para eu e André administrarmos sozinhos. Tudo o que
podemos fazer agora é levar a revisa aonde vamos. Não temos tempo para fazer
outros planos nem projetos. A revista n. 4 já deveria ter saído, a revista se
banca, mas não paga minhas contas ainda. Por isso nós temos que ficar com o
pragmatismo missionário (rsrsrsr), focando nestas duas missões já que a GD toma
muito tempo.
AS: Quais são seus próximos projetos
para os Guerreiros de Deus?
LA: A revista para
pintar, com um caderno de jogos para o público infantil, pensada para EBD. As
action figures... Novidades no blog. É isso.
Acesse:
*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.