quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Guerreiros que estão muito além dos credos


Ela mora em Niterói, terra de Araribóia, e exerce várias funções - missionária, educadora, escritora, grafiteira e ilustradora são algumas delas. Estamos falando de uma mente prodigiosa, chamada Lya Alves, que com a colaboração do roteirista André Alves (também seu marido) criaram a história em quadrinhos Guerreiros de Deus. Onde jovens brasileiros agraciados por super-poderes são recrutados pela AIS - Agência de Investigação Sobrenatural, tendo como missão combater seres infernais que estão invadindo o mundo para implantar o Apocalipse Zumbi.
As revistas publicadas de forma independente - Estrela Cadente, Destino/Operação Resgate e Conspiração (edições n. 1, 2 e 3), vêm conquistando centenas de fãs através de seu conteúdo fantástico impresso pelo traço magistral da autora. Tivemos o prazer de entrevistá-la, e trazer aos nossos leitores uma centelha deste universo tão intrigante.




Alessandro Swinerd: O que te inspirou em criar os super-heróis Guerreiros de Deus? E quanto tempo leva para a produção da história em quadrinhos?
Lya Alves: A Guerreiros de Deus começou com brincadeiras entre eu e André. A gente sempre brinca com jogos de desenhos. O André também desenha, o traço dele é mais cartoon, e a gente sempre ficava brincando de criar personagens para zoar amigos. Assim nasceu o primeiro personagem, reverendo Nelson, rsrsr. Depois veio a Jezabel, e daqui a pouco a gente tinha um grupo de Guerreiros pronto. Como eram inspirados em personagens da vida real, os personagens tinham um perfil psicológico forte, não era só o cara fortão que é herói porque sofreu uma tragédia, ou o vilão não é vilão só porque é louco. 
Com relação ao tempo de produção, agora o André está sem tempo de escrever os roteiros porque está no processo de gravação do segundo CD. Mas eu levo 1 dia pra desenhar e arte finalizar uma página. Por isso a partir da edição n. 3, diminuímos a quantidade de páginas. Mas não é só isso. Tem o tempo de criação do roteiro, tem depois o tempo de preparo de material de divulgação, depois o tempo de divulgação na internet e nas redes sociais, a distribuição das revistas, e não temos uma equipe ainda, nem dinheiro para investir em publicidade, que é fundamental.

AS: Por que estes personagens de temática cristã fogem ao comportamento convencional?
LA: A Guerreiros de Deus nasceu assim, e tivemos cuidado de manter essa característica, adotando esse pé na realidade como estratégia na criação de personagens. Por isso os personagens têm uma carga de relatividade, o malvado pode não ser tão malvado, e os heróis têm imperfeições às vezes bem acentuadas. E com relação à temática cristã, na verdade, a imperfeição é o padrão do homem na Bíblia. O homem nasce pecador, não é uma opção, é uma herança que vem do Éden. Assim temos um Abrão mentindo pra Faraó, um Jacó mentiroso e usurpador, sem contar em Davi, o homem segundo o coração de Deus, que comete um crime premeditado seguido de adultério, e por aí vai. Esse é o padrão da Bíblia, o homem como vaso de barro, frágil, porém disposto a ser transformado e quebrado na mão do oleiro. Personagens idealizados na perfeição de caráter e comportamento têm a ver com a necessidade de mostrar um padrão de conduta que queremos atingir enquanto cristãos, mas não são a realidade. Na GD a gente prefere mostrar os dilemas e o caminho para esse padrão de conduta, do que apresentar um personagem perfeitinho. Mas o caminho às vezes é bem enlameado, como na vida real.

AS: Associar fundamentos bíblicos com a Teoria do Apocalipse Zumbi não será considerado heresia?
LA: Depende do que consideramos heresia, rsrsr. Por exemplo, a GD é uma história de ficção, Eliseu voa, Carmela abre a boca e sai  um leão de fogo, Noé lança sementes no chão e imediatamente nascem árvores gigantescas, estamos falando de mundo fantástico. E no mundo fantástico é o escritor quem dá as cartas. Nesse contexto, o Apocalipse Zumbi não parece tão herege, ou parece? Rsrsr.

AS: A crítica severa à doutrina de certas igrejas neopentecostais causa alguma aversão a história em quadrinhos no segmento evangélico?
LA: Não, porque não criticamos a doutrina das igrejas neopentecostais. Criticamos o amor ao dinheiro, o comércio da fé, a graça barata, a egolatria, a hipocrisia. Isso não é privilégio exclusivo  de nenhuma igreja em especial. Jesus e João Batista confrontaram a raça de víboras no seu tempo. Ezequiel, Jeremias e Isaías, todos eles confrontaram o pecado, faz parte.

AS: A igreja trata os ilustradores da mesma forma que os cantores e pregadores? Já que esta linguagem artística é um método eficaz de evangelização?
LA: Não, na verdade, a igreja costuma ter medo de artistas, ou pelo menos, o pé atrás. Artista pensa, questiona, e isso pra muitos pastores é o pecado original, rsrsr. Os músicos estão associados aos antigos levitas, então pra eles é mais fácil porque hoje quando se pensa em culto, pensamos em pregação e louvor, embora nem sempre o culto tenha sido assim. Eu tenho sido muito bem recebida com os graffitis, com a arte profética e com a revista. O graffiti abre portas, a arte profética ainda não é muito conhecida e a revista é bem recebida, mas podia ser melhor. Por exemplo, de um modo geral, quando um pastor pensa em revista, pensa em dois tipos: revista de escola bíblica dominical ou material para evangelismo. Revistas que tenham a função de doutrinar um público específico dentro da igreja ou fora dela. Se traz este retorno para o rebanho, ele investe. Uma revista como a GD não tem essa função de doutrinar, nem de "alcançar almas". Embora a gente caminhe na doutrina, e a gente acabe impactando pessoas não-cristãs pela forma não-religiosa de abordar o relacionamento com Jesus. A função da GD é estimular a criatividade, o prazer na leitura, o lazer. O pragmatismo pastoral costuma negligenciar estas coisas como se fossem menos importantes. Mas a fé é a  certeza das coisas que não se vêem, então fé tem a ver com criatividade. Ver um caminho onde não há, é tarefa para mentes criativas; o prazer na leitura de uma HQ vai preparar o leitor para a leitura de textos bíblicos densos; e o momento de lazer é onde temos o ócio criativo, propício a reflexão na Palavra de Deus. Enfim como falei, tudo é uma questão de pragmatismo e ignorância. E certamente o Reino perde com estas coisas.

AS: Como você vê o mercado independente de histórias em quadrinhos no Brasil?
LA: Trabalho de formiguinha. Principalmente pra GD, que tem conteúdo religioso. 
  
AS: O que precisa ser feito para os jovens terem uma identificação maior com super-heróis nacionais? Principalmente os que sejam oriundos das escrituras sagradas?
LA: Acho que os jovens se identificam de cara. A principio pensamos em fazer a GD para crianças, mas quem chegou junto foram os adultos. Então focamos neste público alvo. Mas as crianças amam, também, eu tenho vontade de fazer uma série da GD voltada para o público infantil, tipo aqueles caderninhos pra desenhar e pintar. Com desenhos infantis, esta série sim, seria focada para aulas, e pra ir preparando este público para as histórias quando chegarem na adolescência. Acho que falta mesmo investimento em publicidade, em estrutura de marketing. Mas agora, isso pra nós é impossível. Também há o fato que a juventude atual não lê revista, a linguagem deles é a internet. Enquanto estávamos postando as tirinhas do Stand up com Jesus, o blog tava bombando, por isso essa era nossa alternativa inicial. Mas pra ano que  vem teremos novidades e vamos retomar as postagens semanais no blog.
  
AS: Qual a estratégia utilizada para que a revista forme público em outros estados do Brasil?
LA: Eu e  André somos missionários. No momento, por falta de uma equipe de trabalho, a Guerreiros está um pouco de lado. Temos projetos que são prioridades como o evangelismo profético no lixão de Itaoca, que inclui uma ação social intensa e os preparativos para a Escola de Profetas em 2014, que inclui projetos e livros didáticos. É muita coisa para eu e André administrarmos sozinhos. Tudo o que podemos fazer agora é levar a revisa aonde vamos. Não temos tempo para fazer outros planos nem projetos. A revista n. 4 já deveria ter saído, a revista se banca, mas não paga minhas contas ainda. Por isso nós temos que ficar com o pragmatismo missionário (rsrsrsr), focando nestas duas missões já que a GD toma muito tempo.
  
AS: Quais são seus próximos projetos para os Guerreiros de Deus?
LA: A revista para pintar, com um caderno de jogos para o público infantil, pensada para EBD. As action figures... Novidades no blog. É isso.



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*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.