Na adolescência seu modo de
indignação era recorrer as pichações pelos muros da cidade. Porém veio um
novo tempo e o amadurecimento, que originou num inestimável legado de arte
urbana pelo Rio de Janeiro, Brasil e mundo. Estou falando de Dante Urban, que
atualmente interfere no panorama da Baixada Fluminense com sua grafia mágica,
concedendo cores aos municípios esquecidos pelo poder público. Tive o
privilégio de entrevistá-lo para nossa Rádio, veja o que pensa este ator
social:
Alessandro Swinerd: O que foi
determinante para você entrar na cena do Graffiti?
Dante Urban: Em 1999 estava no auge da pichação, curtia
muito, mas recebi um convite pra fazer um curso de Graffiti na Chatuba, em Mesquita.
Tive o contato bem rápido, mas gostei. Como já desenhava comecei a entrar na
pegada dos estilos e ao mesmo tempo com oficinas; o pouco que aprendi passei
pra outros, junto com uma galera do Hip Hop. Pois na época os quatro elementos
eram bem mais unidos.
AS: Quais os maiores
eventos que suas obras foram exibidas?
DU: Os maiores eventos pra mim são: a rua e
as amizades que conquistamos. Todos os Graffitis sejam em muros, telas, galeria,
evento ou sozinho, gosto de pintar e agitar a cena. Participei do Muro por La Paz (2011), maior muro
grafitado do mundo na época. Creio que esse foi especial por conta dos contatos
e amizades.
AS: Como analisa a
atuação dos artistas urbanos na Baixada Fluminense?
DU: Vejo de uma maneira positiva, apesar de
todos terem defeitos, sei quem faz a cena e sei quem ganha com ela, nós que
estamos diariamente sabemos que existe uma galera que faz valer à pena e outra
que só quer se aproveitar da cena. Mas a grande maioria está no caminho certo
tendo humildade e respeito, pois na rua se você não tiver isso será difícil viver
por ela.
AS: Você realiza intervenções
por diversos municípios. Há um retorno financeiro, ou é simplesmente por paixão
a arte?
DU: Realizo, pois sou multiplicador. Quero que
a cena cresça. Existe uma galera que começou a pintar na minha levada, e que até
hoje estão fazendo o que eu gosto - ser multiplicador. Conseguimos algum
retorno, pois vivemos disso, outros não. Mas nossa bandeira é o Graffiti,
faremos com apoio ou sem. Botamos o sangue, a Baixada precisa disso. Mas em todas
as áreas.
AS: O Grafite tem um
cunho social, certo? Já participou de alguma instituição que desenvolva um programa
socio-educativo em comunidades carentes?
DU: Já participei de varias, creio que naquele
momento foi especial pelo contato com a galera que não conhecia a arte do Graffiti
e do Hip Hop. Mas vejo que a maioria dessas instituições não tem o propósito de
multiplicar mesmo. Infelizmente, vejo muitos se aproveitando do momento ao
invés de ajudar quem precisa.
AS: A BXD Graffiti é uma
loja destinada ao público das artes visuais. Também pode ser considerada um
“QG” dos grafiteiros, onde são organizados projetos para alterarem o panorama
da cidade?
DU: A idéia da loja foi pensando nisso, na verdade a gente sempre
tinha uma grande necessidade de material e íamos ao centro do Rio e Tijuca, lugares
longes. Uma loja na Baixada seria de grande importância, pois movimentaria a
cena local e também faria um encontro da galera. Temos 1 ano e poucos meses,
mas sabemos que as paradas vão fluir. Alguns estão montando marcas de roupas,
outros estão virando designers, e temos uma grande influência nos grafiteiros
locais. Sabemos quem faz a cena na Baixada de verdade e busco através da loja
fortalecer ainda mais .
AS: Alguns dias atrás
numa rede social, você se posicionou contrário a um “Concurso de Graffiti” que
iria premiar três desenhos que representassem a consciência negra. Isto não é
uma forma de promover esta linguagem artística na região e dar oportunidades a
novos talentos?
DU: Sim, na verdade a
posição foi minha e de todos... a grande maioria dos grafiteiros. Pois antes, a
Prefeitura apagou mais de 1 km de intervenções. Premiar num acontecimento desses
é impossível, não se valoriza dando dinheiro pra uns e deixando vários de fora.
Graffiti não é competição! Não é futebol, torneio, Graffiti é muito mais que
isso. A Prefeitura viu essa posição nossa e modificou a idéia, porque não rola
isso no nosso meio. Se você vê uma ação de Graffiti onde a galera peça dinheiro
e não seja transparente, se posicione, pois está errado. No Graffiti a maioria
leva seu próprio material e pinta sem cobrar ao morador ou Prefeitura, e quem quer
que seja. Agora se for um trampo comercial é outra parada. Vejo que hoje em dia
algumas ações viraram grandes pólos de comércio, onde alguns perderam a
essência da cultura. Sei que esses também são os aproveitadores pois toda
cultura tem os seus...
AS: O que deve ser feito
então pelas prefeituras locais para fortalecer o movimento na Baixada
Fluminense?
DU: Tem que ser
parceiras de alguma forma - seja incentivando, liberando espaços públicos, dando
um direcionamento, botando alguém que fale a mesma língua. Ninguém aqui quer
ganhar dinheiro com eles, tão pouco pedir emprego. Queremos mais valor e
respeito. A fama a gente ganha nas pessoas que moram aqui; e o valor de quem
mora na Baixada é o principal. Moramos aqui e queremos uma Baixada explodindo
de Graffiti e arte, em locais onde precisam estar bombando e incentivando os
jovens. Paz!
*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.