quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Graffiti antes que seja tarde!

Na adolescência seu modo de indignação era recorrer as pichações pelos muros da cidade. Porém veio um novo tempo e o amadurecimento, que originou num inestimável legado de arte urbana pelo Rio de Janeiro, Brasil e mundo. Estou falando de Dante Urban, que atualmente interfere no panorama da Baixada Fluminense com sua grafia mágica, concedendo cores aos municípios esquecidos pelo poder público. Tive o privilégio de entrevistá-lo para nossa Rádio, veja o que pensa este ator social:  
                          

Alessandro Swinerd: O que foi determinante para você entrar na cena do Graffiti?
Dante Urban: Em 1999 estava no auge da pichação, curtia muito, mas recebi um convite pra fazer um curso de Graffiti na Chatuba, em Mesquita. Tive o contato bem rápido, mas gostei. Como já desenhava comecei a entrar na pegada dos estilos e ao mesmo tempo com oficinas; o pouco que aprendi passei pra outros, junto com uma galera do Hip Hop. Pois na época os quatro elementos eram bem mais unidos.

AS: Quais os maiores eventos que suas obras foram exibidas?
DU: Os maiores eventos pra mim são: a rua e as amizades que conquistamos. Todos os Graffitis sejam em muros, telas, galeria, evento ou sozinho, gosto de pintar e agitar a cena. Participei do Muro por La Paz (2011), maior muro grafitado do mundo na época. Creio que esse foi especial por conta dos contatos e amizades.

AS: Como analisa a atuação dos artistas urbanos na Baixada Fluminense?
DU: Vejo de uma maneira positiva, apesar de todos terem defeitos, sei quem faz a cena e sei quem ganha com ela, nós que estamos diariamente sabemos que existe uma galera que faz valer à pena e outra que só quer se aproveitar da cena. Mas a grande maioria está no caminho certo tendo humildade e respeito, pois na rua se você não tiver isso será difícil viver por ela.

AS: Você realiza intervenções por diversos municípios. Há um retorno financeiro, ou é simplesmente por paixão a arte?
DU: Realizo, pois sou multiplicador. Quero que a cena cresça. Existe uma galera que começou a pintar na minha levada, e que até hoje estão fazendo o que eu gosto - ser multiplicador. Conseguimos algum retorno, pois vivemos disso, outros não. Mas nossa bandeira é o Graffiti, faremos com apoio ou sem. Botamos o sangue, a Baixada precisa disso. Mas em todas as áreas.

AS: O Grafite tem um cunho social, certo? Já participou de alguma instituição que desenvolva um programa socio-educativo em comunidades carentes?  
DU: participei de varias, creio que naquele momento foi especial pelo contato com a galera que não conhecia a arte do Graffiti e do Hip Hop. Mas vejo que a maioria dessas instituições não tem o propósito de multiplicar mesmo. Infelizmente, vejo muitos se aproveitando do momento ao invés de ajudar quem precisa.
  
AS: A BXD Graffiti é uma loja destinada ao público das artes visuais. Também pode ser considerada um “QG” dos grafiteiros, onde são organizados projetos para alterarem o panorama da cidade?
DU:  A idéia da loja foi pensando nisso, na verdade a gente sempre tinha uma grande necessidade de material e íamos ao centro do Rio e Tijuca, lugares longes. Uma loja na Baixada seria de grande importância, pois movimentaria a cena local e também faria um encontro da galera. Temos 1 ano e poucos meses, mas sabemos que as paradas vão fluir. Alguns estão montando marcas de roupas, outros estão virando designers, e temos uma grande influência nos grafiteiros locais. Sabemos quem faz a cena na Baixada de verdade e busco através da loja fortalecer ainda mais .

AS: Alguns dias atrás numa rede social, você se posicionou contrário a um “Concurso de Graffiti” que iria premiar três desenhos que representassem a consciência negra. Isto não é uma forma de promover esta linguagem artística na região e dar oportunidades a novos talentos?
DU: Sim, na verdade a posição foi minha e de todos... a grande maioria dos grafiteiros. Pois antes, a Prefeitura apagou mais de 1 km de intervenções. Premiar num acontecimento desses é impossível, não se valoriza dando dinheiro pra uns e deixando vários de fora. Graffiti não é competição! Não é futebol, torneio, Graffiti é muito mais que isso. A Prefeitura viu essa posição nossa e modificou a idéia, porque não rola isso no nosso meio. Se você vê uma ação de Graffiti onde a galera peça dinheiro e não seja transparente, se posicione, pois está errado. No Graffiti a maioria leva seu próprio material e pinta sem cobrar ao morador ou Prefeitura, e quem quer que seja. Agora se for um trampo comercial é outra parada. Vejo que hoje em dia algumas ações viraram grandes pólos de comércio, onde alguns perderam a essência da cultura. Sei que esses também são os aproveitadores pois toda cultura tem os seus...
   
AS: O que deve ser feito então pelas prefeituras locais para fortalecer o movimento na Baixada Fluminense?
DU: Tem que ser parceiras de alguma forma - seja incentivando, liberando espaços públicos, dando um direcionamento, botando alguém que fale a mesma língua. Ninguém aqui quer ganhar dinheiro com eles, tão pouco pedir emprego. Queremos mais valor e respeito. A fama a gente ganha nas pessoas que moram aqui; e o valor de quem mora na Baixada é o principal. Moramos aqui e queremos uma Baixada explodindo de Graffiti e arte, em locais onde precisam estar bombando e incentivando os jovens. Paz!


Acesse:
Dante Urban 
BXD Graffiti Shop 


*Entrevista realizada para a Rádio Atitude.